BLASFÉMIA
NO RESTRITO RELICÁRIO QUE TE ACOLHE
É-ME ANGUSTIOSO SUPOR
O LABOR DAS AREIAS
NA MADEIRA.
E MEU PESADELO DOS PESADELOS
É A ICNOCLASTA MUCHÉM
NO AFÃ DA SUA LAVRA
ORGIANDO-SE VORAZ.
BLASFÉMIA SUPREMA
O FESTIM.
Retirado da Obra Maria de J. Craveirinha,
Pelo título do texto, surge em minha mente que, o saudoso Craveirinha, encontra-se numa situação que alguém ou algo esteja afrontando a ele ou a alguém/alguma coisa. Mas infelizmente é um poema que ele escreve após a Morte de sua esposa Maria.
Vamos à alguns detalhes: pela primeira estrofe, é possível notar que o sujeito poético se sente bastante triste ao ver e imaginando o constante peso da areia sobre o caixão que esconde o corpo de sua falecida mulher. É sempre difícil saber que é tanta areia que nem permite a Maria, respirar.
Na segunda estrofe, "E meu pesadelo dos Pesadelos..." com essa repetição, e o que diz logo a seguir, ele sublinha o quão difícil é para ele, continuar vivo para ver ou imaginar os insectos "muchém" que rapidamente vão destruindo o caixão que mantém deitada a sua mulher. Ele não suporta pensar nisso, pois ele percebe que é quase impossivel evitar a degradação da madeira, sendo que a qualquer momento, isso atingirá à Maria.
O seu encerrar do texto, "Blasfémia suprema o festim" , faz-me perceber que o José Craveirinha está mesmo rendido ao que a natureza fará à sua mulher ainda que ela já esteja. É como se fosse uma maldição esse momento indefeso da sua esposa, pois, um dia não haverá mais nada dela, senão ossos!
Hoje estive a ler um pouco, de repente me deu vontade de escrever um pouquinho de como entendi este curto texto de Craveirinha. Como é que o amor que ele sentia por esta mulher o terá feito escrever sobre a deterioração do corpo dela?
Facebook: Poeta Cativante
Insagram: Poeta Cativante
Ah, Craveirinha, tu me fazes poeta.
Sem comentários:
Enviar um comentário